
Um herói para mim, com a devida arrogância e distância. Olha para mim pelo canto do olho, e dá respostas curtas como se o culpado de estar na sua vida fosse eu. Não queria o compromisso comigo, não tinha tempo para coisas sérias, ficando as justificações pelo próprio trabalho que exercia e tanto me fascinara.
As suas glórias foram meus momentos de felicidade, os seus falhanços a minha tristeza imensa. Eu era por quem ele era, porque assim tinha que ser, e nunca fui bem explicado. Nunca tive culpa dos meus fracassos, mas a pressão de tão reduzido investimento em mim era tanta que me auto-maritirizava, fechado na prisão a que me condenou.
O choro, a tristeza, o fracasso dele faziam-me chorar, porque era eu quem sofria mais por gostar tanto dele.
Ainda hoje é assim. Não suporto ver-te chorar. É como se fosse eu o teu pai, mas ao contrário. Provavelmente nunca amei ninguém como te amo a ti.
Ver-te a dar o braço, e não apenas o dedo, num momento tão difícil enche-me de alegria e motivação.
Só precisei de esse bocadinho a mais de investimento, pai. Foi ele que me faltou estes anos todos, e agora... tento mudar os teus olhos, límpidos e esverdeados, para que não me vejam como o falhado que sinto ser.