
Tento ser o que quero que seja, mas pintam-me da cor que não quero vestir. A parada da desilusão e da vergonha paira cedo sobre a consciência. Não sou quem desejaria. Ninguém o será, mesmo que se pintem e os pintem da cor que querem vestir. Mas sobre eles não cairá o peso terrível e fatal da pressão de uma espécie de não existência. Pouca importa o vizinho, se não se olha para si, digo-me nas palavras de gente sábia a ecoar na minha circulação. Mas só sou o que sou porque assim me fazem. No fundo só eu sei. Mas queria que os outros soubessem, também. Porque o vizinho é importante.
Descarrego a melancolia em mim infiltrada por outrém. Tento lavar-me com isto, sacudir o pó dos pinheiros que me tentam adormecer. O pinhal que me quer ver num mundo de fantasia para que me torne um deles. O pinhal dos pinheiros que não o são e nunca o viram ou virão. Ou mesmo que vejam, as raízes que lhes impuseram estão tão implantadas que nunca conseguirão andar cientes do que são. Mas sim do que poderiam ser se não desprezassem a sua origem.
Serei o quê?, perguntam-me ... certezas absolutas sobre isto? só uma: que sobre o que sou, não sei nada.
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