
Olhos perdidos, enfeitados com a consequência da ressaca que o mata. A cara, morena do sol. O corpo, imundo. A alma, deslavada.
Encontra-se perdido. Houve alguém que o chamou para algum lado prometendo-lhe aquilo que ele mais queria neste mundo, que era o que lhe parecia afastar dele. Andava agarrado a essa ilusão, tal como todos os seus parceiros de sonho. Desesperados em 80% do tempo que passavam acordados, não passavam um dia sem essa porta que dava para um outro lado distante do mundo triste em que viviam.
Ele era apenas mais um, desprezado por todos os que lhe deitavam os olhos em cima. Achava-se incompreendido, o coitado, sem ter a noção de que entrar nessa porta muitas vezes seria uma descida para o abismo.
A frustração dele pelas pessoas que o viam, e a ressaca que o afectava não lhe impedia de esquecer as boas maneiras com que fora criado. E quando pedia algo a alguém e este lhe negava, desprezando-o com um insulto, ele respondia, no seu tom mais inofensivo: "Obrigado, bom dia".
1 comentários:
Mais um texto fantástico. Nunca me canso de os lêr :)
B.M
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