quarta-feira, 25 de abril de 2012

O karma é uma coisa engraçada.
Se analisarmos personagens populares (exemplo mais flagrante: Tony Soprano) que reconhecemos sentadas/deitadas num divã a falar com um "médico da mente" (vulgo psicólogo), todas as elas são perseguidas pelo que fizeram... na infância. São as memórias traumáticas, que têm SEMPRE associadas a elas causas. Ou seja, por mais disparatado que possa parecer, num dos dias de curiosidade, vir a pôr perfume do pai pode significar um incêndio na padaria à frente da nossa casa.
A mente associa a essas memórias o tacto, os sons, os cheiros e... as visões. Podem vir a acontecer novamente, essas sensações e o sistema de alarme dispara sem razão. Os traumas voltam e a possibilidade da repetição das emoções que víamos com o fumo a sair do sítio onde nos deliciávamos com pasteis de nata enche-nos de ansiedade. Principalmente se não sentirmos o cheiro daquele perfume antigo ou a textura de parede no edifício onde nos encontramos há muito tempo. E é a partir daí que soa o alerta. Contraria-se as emoções e os sintomas corporais que temos, e fica receita para um ataque de pânico a que se junta uma memória enterrada.

O que tem isto a ver com a primeira linha? Todo o efeito tem uma causa, é certo, mas sou céptico em acreditar na ideia de que se voltarmos a pôr o perfume antigo dos nossos pais (ou algo semelhante), haverá uma padaria incendiada e, consequentemente, todo o sentimento de culpa que nos rodeia por algo pelo qual não fomos responsáveis. Assim, a culpa pertence a quem se deixa interiorizar por ela e não mais que isso.

Portanto: se uma padaria arder, é SÓ porque alguém se esqueceu do forno ligado; se te aconteceu aleijares-te a troçar da miséria dos outros... foi SÓ porque não os imitaste bem.
Este é o início da cura ;)

"Now you don't talk so loud"

Estar perante um turbilhão de sentimentos e confusão é desconfortável. Mais ainda se nos sentimos sozinhos e desapoiados, com a sensação que ninguém nos apara a queda que um furacão de ansiedade nos pode causar. Não acontece, mas sofre-se por antecipação e é no olho do tal furacão que nos apercebemos melhor do mundo à nossa volta - ele afastou os amigos, que não se aproximam com medo de ficarem encharcados de negatividade. Pensam já lidar com problemas suficientes e dar, q.b., o braço da preocupação.

 "Fazer o que?" De pereiras, nunca mais vou esperar figos, e a partir de agora só plantarei figueiras... das doces.

sábado, 21 de abril de 2012

"Emerson tem lugar no banco... Jesus também"

(imagem... repetível)


Na véspera do jogo de Alvalade com o Sporting, o jornal Record já falava numa possível demissão de Jesus caso o Benfica não vencesse no terreno dos leões. Começaram aí os rumores da comunicação social sobre a saída do técnico e entraram na cabeça de muitos benfiquistas mais sensíveis os macaquinhos da paranóia. É fácil culpar um treinador em Portugal, então se estivermos a falar do clube mais mediático do país, maior se torna a caça ao homem do banco.
Ora, quem começou isto teve razões para o fazer. A instabilidade de um clube no meio de uma redacção que é contra o mesmo e que de imparcial tem pouco é algo que os enche de alegria. Sabendo eles do risco do jogo, nada tinham a perder em divulgar uma possível ruptura em caso de derrota... que aconteceu, sim, num encontro onde os jogadores não estiveram ao melhor nível e no qual se demonstraram com elevada indisponibilidade física. 
As críticas, naturalmente, surgiram. A comunicação social voltou a ser implacável e da semente que um jornalista do Record plantou, saiu uma árvore carregadinha de azedume para com o treinador encarnado. A instabilidade criou-se, e tudo começou a descambar por falta de memória e conhecimento dos factos.

 De que factos falo eu? Dos 110 milhões que Jesus e respectiva equipa técnica trouxeram para os cofres da Luz directamente da potencialização de jogadores, que passaram a "jogar o dobro" do que aquilo que renderiam em condições normais. David Luiz, Angel Di Maria e, mais escandalosamente, Fábio Coentrão são disso exemplo. Há também o bónus do título em época de estreia, a que se somam 3 taças da liga. Ou seja, gerou-se mais dinheiro e conquistaram-se mais títulos nesta era que os últimos 10 anos combinados. Acrescentem-se, com toda a justiça, as fantásticas campanhas europeias que a equipa protagonizou nestes anos, e temos argumentos de sobra para a continuidade do amadorense nos quadros da luz.
É certo que o orgulho ficou ferido depois de sucessivas derrotas com o Porto (inclusivé no jogo do título do ano passado), e que a perda de 9 pontos para o rival esta época poderão, EVENTUALMENTE, causar a perda de um título... mas há 12 pontos para disputar e 4 (que são 5, ok) de distância. O calendário é muítissimo mais apertado para os lados da invicta (Marítimo nos Barreiros e Sporting no Dragão) e é perfeitamente possível voltar a disputar o campeonato.

Assim, escrevo estas linhas em total solidariedade para com Jesus e seus críticos: com o primeiro, pela implacável comunicação social; pelos segundos por não serem capazes de irem mais fundo do que apresentam as linhas jornalísticas. Como benfiquista, já protestei contra Jesus (inclusivé "publicamente", como podem verificar nos arquivos do blogue) e não gostei do que fez o ano passado e até confesso que não gosto muito dele como pessoa (ainda não vi uma declaração de amor ao clube). Mas não tenho qualquer dúvida de que é o homem certo para continuar com este projecto, que, com ele, virá a ser ainda mais ganhador. Afinal, conhecem-se estruturas, objectivos e aprende-se com os erros. Já para não falar da conjuntura económica na qual o mundo se encontra e da consequente necessidade da maximização do valor de todos os activos, incluindo jogadores... e é aí que Jesus entra.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"República das bananas"




A moda do "descartável" (a desaparecer, faça-se justiça) parece não ter chegado lá acima, aos que mandam no País.
As giletes de fazer a barba ainda serão as dos tempos dos avós, a carcaça de ontem nunca será desperdiçada e acredito que até as cascas das bananas serão usadas para fazer uma sopa/chá/sumo ou algo do género (soa rídiculo, mas já lá vamos)... é com esta filosofia que, por certo, se encarará o dia-a-dia e será esse o espírito que arrastam para as suas reuniões. Tudo tem de "dar" - a barba pode ficar mal feita e o estômago agonizado, mas a "panela velha é que faz a boa sopa".

Estes modos de viver trazem um grande problema: um dia apanha-se uma infecção com um corte maior quando se faz a barba e ainda se ganha uma úlcera ou um problema intestinal de um pão tão agressivamente mastigado ou de misturas não aconselháveis em nome do poupar. O que fazer então, perante a espada e a parede? Escravizar-se ao dinheiro e às pessoas que exigem bom comportamento económico e aguentar as dores ou submeter-se ao "luxo" do amor ao próprio corpo?

O dilema é real. Há dinheiro, mas não se compram giletes novas nem se desperdiça a comida de ontem. O corpo ainda não reage e pensamos que estamos num bom caminho com este estilo de vida em que se venera a poupança sem sequer considerar o cenário de dores ainda maiores no futuro. Acredita-se que o que não se gasta hoje, é o que trará a prosperidade e a inevja ao vizinho, e que "sopa de banana" é suficiente para manter o corpo activo e em constante não-decrescimento...

...mas ele entrará em decadência. E no nosso país há muitas bananas que não querem servir de sopa e até se sentiriam gratas com compra de novas no mercado. Não estão podres, mas há mais a amadurecer nas prateleiras e que podem trazer melhores proveitos e aumentar o rácio do PIB do nosso corpo. Dele saem ideias e a partir destas, a nova forma de pagar ao merceeiro os caviares que outrora comprámos e nunca pagámos.

Resumindo, e trazendo-vos da twilight zona para a realidade: Aumentar a idade (mínima e máxima) da reforma dos trabalhadores não trará nada de bom para o país - os centros de emprego irão ficar mais cheios de gente nova que um metro em hora de ponta na China, as ideias sairão das mesmas mentes brilhantes que nos ajudaram a pôr onde estamos e... o preço a pagar é o mesmo, já que os custos com as reformas seriam iguais ou superiores àqueles que se pagarão no futuro e, da maneira que se vai acumulando a carga de desincentivos ao crescimento, não haverá mais dinheiro para compensar as... bananas descascadas.