
"[quando lhe perguntam a profissão (o que faz)] Faço tudo"- Soraia Chaves no papel de Maria em Call Girl
Tive um grande amor. Durante alguns anos, e com interrupções várias, fomos amantes, eu e ela.
Não tinha um rosto bonito, e a silhueta dela não era das mais apelativas ao instinto sexual. Mas a sua auto-estima indestronável era uma arma fantástica, e transformava-se no que ela precisasse para me enrolar na sua teia de sensualidade. O riso, as conversas que me faziam sentir amado com o "timming" perfeito nas palavras usadas, o charme, o toque... era poesia. Era mesmo isso que ela queria que eu sentisse, a poesia dela.
Mas eu queria mais, queria a prosa. Ela não ma concedia, e habituava-me mal com carícias e palavras doces. Eu, miserável, esperava tê-la um dia. Mas nunca aconteceu.
Fui poesia, ela foi prosa. E só quando ela quis.
Imagino-me a encontrá-la, daqui a uns anos, num bar tranquilo. Estarei sozinho e insatisfeito procurando o consolo num copo largo de whisky e num charuto. Ela, sentada no balcão. Dirige-me duas ou três palavras que acabam invariavelmente numa longa conversa de dois velhos conhecidos. No fim pergunto-lhe: "o que é que fazes, agora?" Ela responderá: "tudo".
2 comentários:
Consegues sempre fazer soltar o "bichinho da curiosidade" nos leitores com o que escreves. Este texto não foi excepção.
Como todos os outros, este está igualmente belo :)
Não é bem esse o objectivo principal, mas é lisonjeador sabê-lo.
Obrigado pelo comentário :)
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