terça-feira, 16 de novembro de 2010

"J'ai 11 ans (...) Je me suicidrai"


"Le Hérisson" abre com um monólogo fantástico de uma miúda sobredotada de 11 anos que não encontra qualquer sentido na vida, vendo-a como triste e fatal. Efémera e dolorosa, mas do que a morte. Então, por ter a convicção de ir para aquilo que ela chama de aquário, vai-se matar. Planeando o dia da sua morte e tudo o que lhe antecede - tudo gravado na sua câmara de vídeo. Ela própria fala para a sala de cinema, e o filme é quase todo composto por um monólogo fortíssimo de uma rapariga a quem se lhe retirou toda a inocência e a alegria que com ela vem.
É num cenário de uma cidade francesa triste e escura que Paloma cresce, e é precisamente uma pessoa tradicionalmente triste e escura que a faz voltar a sorrir, a porteira do prédio- vive num pequeno compartimento do prédio, onde faz pouco mais que aquecer o seu chá a beber a cultura dos milhares de livros dispostos na prateleira onde o seu gato por vezes dorme. É a partir desta senhora desgostosa da vida, que Paloma recupera o sentido da vida e encontra um desafio novo... o de devolver Reneé (porteira, melhor amiga)... à vida!

Ela consegue, incentivando-a ao relacionamento um japonês novo no prédio. Há a longa e natural hesitação de quem não se acha atraente no início... mas as coisas começam a encaixar, e Reneé a sorrir... até morrer atropelada, numa cena que parecia banal- a sua projecção foi feita de maneira extremamente realista e banal num plano filmado de cima. É aí que termina, abruptamente o filme, com uma frase espantosa de Paloma:
"O que importa é o que se faz antes de morrer. Reneé, tu estavas a amar quando morreste". Esplêndido!

Como um miúdo precoce que fui no que a morte diz respeito, não pude deixar de me identificar com esta personagem principal. A diferença entre mim e Paloma é que nunca fui sobre-dotado e nunca soube intelectualizar os sentimentos da maneira que a personagem faz nesta obra-prima francesa. Tocou-me fundo, o "Le Hérisson".

Avaliação: 7,8/10.

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