
"Le Hérisson" abre com um monólogo fantástico de uma miúda sobredotada de 11 anos que não encontra qualquer sentido na vida, vendo-a como triste e fatal. Efémera e dolorosa, mas do que a morte. Então, por ter a convicção de ir para aquilo que ela chama de aquário, vai-se matar. Planeando o dia da sua morte e tudo o que lhe antecede - tudo gravado na sua câmara de vídeo. Ela própria fala para a sala de cinema, e o filme é quase todo composto por um monólogo fortíssimo de uma rapariga a quem se lhe retirou toda a inocência e a alegria que com ela vem.
É num cenário de uma cidade francesa triste e escura que Paloma cresce, e é precisamente uma pessoa tradicionalmente triste e escura que a faz voltar a sorrir, a porteira do prédio- vive num pequeno compartimento do prédio, onde faz pouco mais que aquecer o seu chá a beber a cultura dos milhares de livros dispostos na prateleira onde o seu gato por vezes dorme. É a partir desta senhora desgostosa da vida, que Paloma recupera o sentido da vida e encontra um desafio novo... o de devolver Reneé (porteira, melhor amiga)... à vida!
Ela consegue, incentivando-a ao relacionamento um japonês novo no prédio. Há a longa e natural hesitação de quem não se acha atraente no início... mas as coisas começam a encaixar, e Reneé a sorrir... até morrer atropelada, numa cena que parecia banal- a sua projecção foi feita de maneira extremamente realista e banal num plano filmado de cima. É aí que termina, abruptamente o filme, com uma frase espantosa de Paloma:
"O que importa é o que se faz antes de morrer. Reneé, tu estavas a amar quando morreste". Esplêndido!
Como um miúdo precoce que fui no que a morte diz respeito, não pude deixar de me identificar com esta personagem principal. A diferença entre mim e Paloma é que nunca fui sobre-dotado e nunca soube intelectualizar os sentimentos da maneira que a personagem faz nesta obra-prima francesa. Tocou-me fundo, o "Le Hérisson".
Avaliação: 7,8/10.
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